sábado, 25 de junho de 2011

A serpente


 

Um dia, uma serpente, muito faminta que estava, resolveu que teria uma dieta vegetariana naquele dia, não tanto por razões éticas, e sim por estar ficando com o corpo um tanto quanto inchado, de tanto engolir sapinhos, pássaros, peixes e outras criaturinhas.
Foi rastejando mata adentro, até que encontrou uma macieira, repleta de frutos, - e eram tão lindos que ela até se lembrou daquele pecado capital do qual os homens falavam sempre. Então eis que começou a chover e a serpente, resolveu se abrigar em um buraco ali perto, que por sinal era a toca de um porco espinho.
O pequeno porquinho ficou assustado com a serpente e soltou dezenas de espinhos que foram se cravar na pele da serpente, que de tanta dor, saiu em disparada pela relva, só parando quando o dia amanheceu.
Dizem as más línguas que a velha serpente nunca mais quis saber de maçãs.
                                   Junho.11

terça-feira, 12 de abril de 2011

O leitão Piglet










O leitão Piglet tem uma namorada
Ela se chama Flora,
Ele mora no Iraque e ela no sul da França.
Às vezes as cartas se extraviam,
Então Piglet chora
Por amor, pelo medo da morte.
Ontem chovia forte, as ruas ficaram alagadas,
Piglet olhava pela janela as gotas d’água no vidro
Eram tão lindas quanto sua amada,
Que lhe mandava cartas
Às vezes extraviadas.
                                         Abril.11

terça-feira, 5 de abril de 2011

Poema do cão










Au au
Que osso duro
De roer, roer
Que dono duro
De se ter, se ter.
Au au
Que merda
Esta vida de cão
Que me deram pra viver.
                                            Dez.07

O pudim











Sou mole
Doce e gostoso
Quanto mais gelado
Melhor o meu sabor.
As crianças me adoram
E as mamães,
Querem me tocar,
Sou pudim,
Tenho esta miserável existência
Do fogo pra geladeira
E de lá para as entranhas nojentas.
                                                            Dez.07

terça-feira, 29 de março de 2011

A Águia, o Jabuti e o Caçador










Uma águia passou em voo rasante numa manhã de inverno, próximo a casa de um jabuti, cujo “dono” com certeza lá dentro estaria.
Um caçador sem coração e muito impiedoso que por ali passava, abateu a águia com um tiro certeiro, que lhe atingiu o coração, indo a águia cair junto ao jabuti.
O jabuti, assustado com o barulho, esticou o pescoço para fora e quase desmaiou com a cena à sua frente. –Uma águia caída, em meio a uma poça de sangue.
Ouvindo passos, recolheu-se rapidamente, fingindo-se de morta; O caçador aproximou-se da águia e recolheu seu inestimável troféu.
Para sorte do jabuti, o caçador confundiu-o com uma pedra e foi-se embora.
O jabuti ficou de luto por sete dias pela morte da águia.

                                                                      Março.11

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Ônibus Laranja




Decorrera trinta minutos e aquela companhia ao meu lado não dizia uma única palavra sequer; fiz menção de retirar-me e mesmo assim aquela criatura não esboçava qualquer reação.
Então, movido por uma força interior, saí em disparada rumo ao Largo Paissandú e só parei quando um ônibus Alaranjado buzinou, quase me atropelando.
O motorista ainda fez um sinal que não entendi direito mas que não devia ser boa coisa.
- Vinte e uma horas, minha rua está um breu total, apagaram-se as luzes, devido a forte chuva que caiu por aqui ainda a pouco; Ouço vozes ao longe, algumas crianças ainda teimam em brincar, enquanto seus pais assistem ao enfadonho jornal nacional.
-Mas, dirão meus caros leitores: - Aonde foi parar aquela companhia, que ficava ao meu lado e nada dizia? -Aquela criatura que não esboçava reação alguma?
-Sinceramente, não consigo entender como as pessoas ficam se questionando sobre companhias mudas e estáticas, ou mesmo sobre o que aconteceu depois.
Acho que o mais interessante seria me perguntarem sobre "o que estava eu fazendo nas imediações do Largo Paissandú", e mesmo assim, confesso de antemão que não saberia responder. 
                                                      março.11