domingo, 15 de dezembro de 2013

O bode Islamita





Viveu nos confins do mundo em uma época remota, um  bode – muito provavelmente um dos   primeiros , que queria muito deixar o cavanhaque para então  conhecer as terras santas onde Jesus havia nascido; todos os dias, olhava no espelho e ia acompanhando os pelinhos que apareciam no queixo. Logo em seguida  rezava o pai nosso e beijava a imagem de Cristo.
E assim foi durante meses e meses seguidos, mas nada de o cavanhaque aparecer e nada de conhecer a terra santa também; Então o bode cujo nome era Espaldonio, cansado de tanto esperar desistiu do cavanhaque e mudou de religião, adquiriu o Alcorão e virou o primeiro bode Islamita de que se tem conhecimento na história.
Diz a lenda que foi assassinado quando dava seus bodejos no muro das lamentações.
Desde então todos os bodes já nascem com barbicha!!
                                                                                 Dez.2013

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A lebre e o parafuso






Certo dia, já há muitos séculos atrás, vivia em uma mata agreste, uma lebre.
Diferente era a lebre de outras lebres, por vários aspectos; Mas dois que chamavam a atenção nas criaturas da selva eram que não tinha orelhas grandes como as outras lebres e não vivia correndo pelos prados.
Era quietinha e possuía duas pequenas orelhinhas; andava sempre só, nunca se importando com falsas amizades.
...Bem, cá estou eu, passado todo este tempo, a contar-lhes sobre a pequena lebre solitária e de orelhas pequenas.
Mas como sei que ninguém está interessado em lebres solitárias e esquisitas, resolvi parar este conto, no momento em que acabo de achar, perdido no canto do rodapé da minha sala, o parafuso que havia muito perdera.
                                                   "Julho.2000"

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Os Três Bois ou Sangue na Manjedoura





Três bois discutiam sobre quem seria o próximo a ser abatido pelo homem de cavanhaque e botas longas;
— Acho que serei eu, * disse o primeiro — Afinal, sou o mais velho, e minha carne já não Será tão atrativa muito em breve; E pelo que me consta “nossos donos”, não podem perder dinheiro nesta brincadeira sem graça.
— Brincadeira, Você disse! — como pode chamar isto de brincadeira Caro colega?
— nossas vidas estão por um triz, eu é que não vou chamar isto de brincadeira, e sim de uma fúria imoral. — Amigo, acho que serei eu o próximo, pois apesar de ser mais novo que você, tenho mais peso, como muita ração e prejuízo é uma palavra que passa longe daqui. — sim, serei eu, *disse o segundo boi, com lágrimas nos olhos e um ar de desespero que tocou profundamente o mais velho.
O terceiro boi, que a tudo ouvia, era o mais novo da turma, ainda em fase de crescimento, tomou da palavra e assim falou: —  Caros amigos, com certeza o próximo a ser abatido serei eu!  — Afinal comemora-se entre os humanos a data em que um deles nasceu há muito tempo atrás e que depois seria morto pelos de sua própria espécie. E além disso, minha carne é apreciada , por ser macia e tenra, segundo dizem...
— Mas o que tem a ver o nascimento de uma criatura de outra espécie, ser comemorado com nossa carne? * resmungou o segundo.   — Se ao menos se alimentassem dos de sua própria raça ainda vai, mas nós! – o que temos a ver com isso? * Ruminou o primeiro. 
— Não sei, não sei...* choramingou o mais novo    — E vamos silenciando, que nosso algoz está vindo!.
Tarde quente, o sol se recolhendo e uma brisa suave sobre os campos; Meninos brincando sobre a relva, pássaros silenciosos em meio a lamentos vindo do curral.
Uma tarde de dor e sangue.
                                                           Agosto.2012

domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Burrico e os apóstolos na Nona Dimensão



Certa manhã, um burrico andava por uma campina, repleta de flores, onde beija-flores recolhiam o néctar sob a luz de um sol que teimava em brilhar e brilhar;
De vez em quando o burrico parava, cheirando algumas flores, extasiado; Mexia sua cauda, sob o olhar atento de formigas que  discutiam sobre como começar uma nova escavação subterrânea.
No outro lado do mundo, um anjo permanecia imóvel, como que querendo entender o porque da presença de anjos em um espaço cósmico quase imperceptível até para os próprios anjos; uma bolha cristalina pairava entre os dois mundos, repleta de pensamentos e equações ainda não reconhecidas, - do outro  lado do hemisfério norte cá na terra, tinha-se a impressão de serem parcas as possibilidades de continuidade de vida, os úteros prenhes aguardavam o momento da fecundação – É tudo tão estranho neste momento, pensou alguém.
Vultos preenchiam a imaginação de seres vivos, rosas desabrochavam  por si próprias, amarelas, brancas, rosas, vermelhas, junto a tulipas, girassóis , jasmins......enormes pessegueiros se entreolhavam, suas lágrimas escorriam em forma de seiva, abundante, uma tristeza Universal se erguia agora.
...O burrico continuava seu caminho, sem saber ao certo quais eram as horas naquele dia claro, vagava sem direção e deixava que seus passos o levassem a qualquer lugar, talvez ao caminho de um mar infinito de flores, pássaros e jasmins;
“Ainda é cedo aqui nesta cidade"; Uma mulher recém casada prepara o desjejum, absorta em seus pensamentos. - Seu útero preparado para nova cria; Crê ainda em Jesus e seus apóstolos desconhecidos -  A extrema unção de seu próprio ser está preparada e uma mesa farta de  alimentos em decomposição será posta.
.........Talvez o burrico seja a forma última de um Deus que, cansado de tanta lisonja, tenha decidido caminhar a esmo por uma campina, repleta de flores, onde beija-flores teimam em recolher o néctar, sob a luz de um sol que teima em brilhar, brilhar, brilhar...

                                            Fev.2012

sábado, 25 de junho de 2011

A serpente


 

Um dia, uma serpente, muito faminta que estava, resolveu que teria uma dieta vegetariana naquele dia, não tanto por razões éticas, e sim por estar ficando com o corpo um tanto quanto inchado, de tanto engolir sapinhos, pássaros, peixes e outras criaturinhas.
Foi rastejando mata adentro, até que encontrou uma macieira, repleta de frutos, - e eram tão lindos que ela até se lembrou daquele pecado capital do qual os homens falavam sempre. Então eis que começou a chover e a serpente, resolveu se abrigar em um buraco ali perto, que por sinal era a toca de um porco espinho.
O pequeno porquinho ficou assustado com a serpente e soltou dezenas de espinhos que foram se cravar na pele da serpente, que de tanta dor, saiu em disparada pela relva, só parando quando o dia amanheceu.
Dizem as más línguas que a velha serpente nunca mais quis saber de maçãs.
                                   Junho.11

terça-feira, 12 de abril de 2011

O leitão Piglet










O leitão Piglet tem uma namorada
Ela se chama Flora,
Ele mora no Iraque e ela no sul da França.
Às vezes as cartas se extraviam,
Então Piglet chora
Por amor, pelo medo da morte.
Ontem chovia forte, as ruas ficaram alagadas,
Piglet olhava pela janela as gotas d’água no vidro
Eram tão lindas quanto sua amada,
Que lhe mandava cartas
Às vezes extraviadas.
                                         Abril.11

terça-feira, 5 de abril de 2011

Poema do cão










Au au
Que osso duro
De roer, roer
Que dono duro
De se ter, se ter.
Au au
Que merda
Esta vida de cão
Que me deram pra viver.
                                            Dez.07